quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Irmãs Jamais (Sorelle) - Marco Bellocchio


Marco Bellocchio tem uma filmografia vasta, que pelos poucos títulos que chegaram por aqui, podemos concluir que vale a pena conhece-lo mais. Pelas amostras exibidas em São Paulo nos últimos tempos, podemos ver seu cinema comprometido (algo bem importante entre os italianos atualmente), original, profundo e extremamente belo. 


O primeiro que conheci foi o belo e denso:
Bom dia, noite.
(abordagem original sobre o sequestro de Aldo Moro)

Em seguida o excelente Vincere.
(também original ao se partir de uma situação vivida por Mussolini em sua juventude e representativa de diversos aspectos da figura do ditador)

Agora a Mostra de São Paulo trouxe Irmãs Jamais, um filme estranho, irregular, diferente, mas bastante instigante.

O filme é de fato experimental, pois surgiu de filmagens feitas, em intervalos de vários anos, em uma oficina de cinema que Belocchio dava na cidade onde cresceu (como explica Zanin).

Ali Belocchio registrou sua família (filha, filho, tias etc) e construiu uma história familiar com diversos paralelos à sua, mas que segundo ele é ficcional.
Entre cenas longas, estranhas, poéticas, bonitas, misteriosas, Irmãs Jamais vai trazendo alguns assuntos à tona: o lado conservador da família que preza pela manutenção dos laços, da união e do patrimônio; 

A geração seguinte com diversas inquietações e aspirações maiores, desejando criar, construir, expandir e conquistar o mundo; e a terceira geração, que apesar de representar o futuro, me parece a mais impregnada de nostalgias. 

Ali se sente o gosto pela infância na cidade pequena, a importância dos valores e laços familiares e ali se antevê a crise entre o velho e o novo, entre a valorização da família e a busca de novas identidades...



Para mim a personagem da menina que vemos crescer (interpretada pela filha de Belocchio, Elena, de seus cinco aos 13 anos) pode ser um alterego do diretor:

Aquele que agradece, homenageia e sente saudades da cidade e dos espaços onde cresceu, e das pessoas com quem se relacionou e se formou, mas também aquele que deseja ir além, ganhar o mundo e fazer filmes...

Na construção do filme sentimos as cenas feitas aos poucos, em intervalos de anos, com diferentes pontos de vista e amadurecimento,


Mas o olhar intimista; o desejo de se aproximar de um tempo em espaço lento, denso e particular; as personagens profundas; a estética um pouco sombria, mas bela e poética... Tudo está ali.


Colcha de retalhos e intenções que funcionam. E instigam a conhecer os outros títulos.


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