quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A luz entre oceanos (The Light Between Oceans) - Derek Cianfrance


O diretor americano Derek Cianfrance buscou uma boa combinação entre o romance de sucesso de M.L. Stedman e a dupla de talentosos atores que veio se destacando nos últimos anos: Michael Fassbender - de filmes como Shame - já comentado aqui - e Alicia Vikander  - de filmes como A Garota Dinamarquesa - também comentado aqui.


A luz entre os oceanos conta a história de um casal que vive numa praia longínqua onde o marido é responsável pelo farol e a mulher que quer construir uma nova família feliz, já que seus pais viveram a dor da guerra e da perda dos filhos, seus irmãos.


Tudo corre muito bem até que a moça fica grávida e perde o bebê no início da gestação. Novamente ela fica grávida e novamente perde o bebê. Entretanto surge um barco vindo do mar trazendo um bebê perdido.

Eles o salvam e vem o dilema sobre ficar ou não com o bebê. A moça com seu instinto maternal e no desespero de suas perdas quer ficar com o bebê a qualquer custo. Porém o marido vive o dilema da moral e da honestidade de querer contar a verdade.

A trama até aí já é bastante dramática e novelesca, mas ainda aparece a mãe verdadeira para adensar mais a história.

Com momentos bonitos e de grande potencial, o filme exagera na dramaticidade e a tragédia se torna quase inverossímil, com tantos acontecimentos que nos distancia da intimidade de seus personagens e de seus sentimentos por si só tão profundos.

Também peca por apresentar como único conflito na vida essa infelicidade do destino, como se esses fatos imponderáveis não provocassem mudanças no cotidiano e conflitos menores e mais corriqueiros, mas que poderiam tornar a trama mais complexa e realista.

 (casamentos colocados como perfeitos a não ser pela fatalidade da perda de bebês e não por pessoas de diferentes culturas, de casamentos possivelmente arranjados etc intensificam a inverossimilhança)


Talvez numa narrativa mais intimista o resultado seria mais intenso e nos envolveria mais...

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Amy - Asif Kapadia


Com experiência de filmes feitos em terras longínquas e modos de vidas peculiares, Asif Kapadia tem se dedicado agora a filmes biográficos.
Sua primeira experiência de sucesso Amy, ganhou o Oscar de documentário em 2015.

O filme é um apanhado de material de arquivo e consegue fazer um bom mosaico da vida da jovem cantora: 

Da descoberta do talento, passando pela relação com o sucesso, a exposição de sua imagem, fosse no âmbito privado (há diversas gravações feitas por celulares de amigos e familiares) ou pela mídia internacional.

Dentro dessa exposição vamos conhecendo melhor as fraquezas de Amy, suas inseguranças, suas dores, seus amores, seus medos e o que a foi fazendo se consumir.


Não foi o consumo de drogas que a sucumbiu, mas como sua vida tão peculiar a desgastou, não poder ter uma vida normal a deixou sem chão...

O filme faz uma boa progressão da apresentação das músicas que todos conhecemos e o que acontecia em paralelo na vida privada de Amy.

Entretanto, de certa forma, o documentário acaba cometendo o mesmo defeito que é deflagrado em sua narrativa: um excesso de exposição da intimidade da jovem cantora.

Por um lado vemos a menina assustada com paparazzis e a vida sem limites, por outro a consumimos da mesma maneira.

Talvez se essa metáfora e relação tão imbricada entre todos esses registros e obsessão pela vida de Amy fosse tematizada pelo documentário, ele não tivesse momentos que parecem um pouco pobres, quase como uma coletânea de vídeos e depoimentos de amigos. 

Podemos extrair momentos preciosos dele. Mas mais uma vez ficamos com a pergunta de quanto do mérito vem do filme ou de seu tema, como tantos outros que vemos por aí - e comentamos por aqui...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Procurando Dory (Finding Dory) - Andrew Stanton & Angus MacLane


Desenhos animados se baseiam bastante em mitos e histórias universais.

Nossos sentimentos mais primitivos e valores mais difundidos. Assim, o amor de um pai por um filho e a busca por salvá-lo e protegê-lo é bastante tocante e comovente.


Essa é a premissa do sucesso de Procurando Nemo, de Andrew Stantos em parceria com Lee Unkrich: um peixe que vai atrás de seu filho peixinho, chamado Nemo.

Além da tematica de apelo, o filme ainda contava com lindos cenários (diversas possibilidades de cores e formas do fundo do mar - talvez até uma carona do sucesso de A Pequena Sereia).

Por isso uma característica importante não afetou a muitos que assistiram, a personalidade de seu protagonista. Apesar de pai dedicado e amoroso, o protagonista é extremamente sério, sem nenhuma graça ou simpatia.

Quem salva o filme e rouba a cena é Dory, uma peixa com problema de memória que faz várias confusões e é muito divertida.
Tanto que ganhou agora um filme só pra ela: Procurando Dory.

Uma premissa muito similar: a tentativa do reencontro familiar, agora de Dory tentando encontrar seus pais e Nemo e seu pai tentando encontrá-la por sua vez.

Novamente lindos cenários, personagens diversificados e divertidos, mas Dory como protagonista acaba tendo menos profundidade, pois para um coadjuvante não são necessárias tantas camadas e Dory funcionava melhor.

Sua história de desmemoriada em busca de memórias e das pessoas que passaram por sua vida poderia explorar mais os sentimentos envolvendo os encontros e desencontros em sua trajetória, mas explora mais as cenas de ação.

A comédia que tenta se repetir não funciona tanto e as emoções soam menos originais, já que se parecem um pouco com o filme anterior. Aqui Andrew Stanton, dessa vez em parceria com Angus MacLane, acaba perdendo um pouco não apenas de Nemo e de Dory, mas também do ritmo e do potencial.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Zoology (Zoologiya) - Ivan Tverdovskiy


O jovem diretor russo Ivan Tverdovskiy faz sua estréia com um filme muito interessante: Zoology.


Numa condução realista, Ivan conta a história de Natasha, uma senhora que começa a desenvolver uma calda.


Essa forma realista de abordar algo anti-natural é um dos principais méritos e uma das questões mais instigantes do filme. Faz lembrar o curta brasileiro de Juliana Rojas e Marco Dutra Um Ramo, já citado aqui.

Em Zoology, Natasha tenta seguir sua vida normalmente, mas se preocupa e procura médicos. Ninguém consegue lhe dar uma explicação ou uma solução para o seu problema e ela vai ficando mais e mais angustiada.

Ao mesmo tempo essa mesma cauda provoca atração de um enfermeiro, que de certa forma a liberta de todas suas repressões e contenções. 

Seu lado "animal" vem verdadeiramente para fora e a transformação externa passa a ser também interna.

O filme toca nos temas da sexualidade, feminilidade, liberdade, expressão, envelhecimento, rigidez, espontaneidade... E nos faz adentrar em uma narrativa exótica, bonita, profunda e delicada. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Janis: Little Girl Blue (Amy Berg)


Difícil documentários de pessoas marcantes que consigam nos trazer algo a mais do que um recorte bibliográfico. 
Uma obra audiovisual que possa nos fazer adentrar além de um apanhado mais jornalístico sobre artistas.


Vide o documentário sobre Amy Winehouse ou mesmo sobre Nina Simone - já comentado aqui.

Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, por exemplo, consegue transcender com seu Sal da Terra - também comentado aqui sobre a trajetória do reconhecido fotógrafo.

Em Janis: Little Girl Blue, Amy Berg traz alguns depoimentos de familiares, ex-namorados e ex-parceiros musicais,

que nos ajudam a montar o quebra-cabeça de uma curta trajetória de talento e solidão.

Ver, e principalmente ouvir, as performances de Janis são um espetáculo a parte, e os depoimentos são bons, mas não nos levam a um lugar especial como o som de Janis.

Fica então um registro competente, mas que como obra audiovisual vale pelo valor histórico-musical. 

A Caminho de Istambul (La route d'Istanbul) - Rachid Bouchareb


O francês Rachid Bouchareb traz um tema atual e instigante em seu novo filme: as conversões de jovens europeus ao islamismo.
A Caminho de Istambul conta a história da belga Elizabeth, que vê sua única filha de 20 anos fugir sem deixar muitas informações. 

Aos poucos Elizabeth vai descobrindo que a filha decidiu se unir ao Estado Islâmico e foi para algum lugar entre a Síria e o Iraque e é para lá que Elizabeth vai.

O filme retrata muito bem a aflição e obstinação dessa mãe e também o silêncio em que ela se encontra. A falta de respostas quando ela consegue lhe fazer perguntas (em raros e difíceis telefonemas) e a falta de justificativas para a atitude dela.

A angústia desse silêncio é uma das qualidades do filme, mas também uma de suas carências, afinal o filme não vai muito além dessa trajetória.

Ele só retrata o caminho geográfico, sem explorar os diversos outros caminhos que estão sendo percorridos (psicológicos, religiosos, políticos, emocionais...).

Há uma densidade latente no filme (dado principalmente pela direção das atrizes: Astrid Whettnall - de filmes como Marguerite e Pauline Burlet, de filmes como O Passado, já comentado aqui), mas esse tema tão pulsante poderia ter um destino ainda mais profundo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Sabor da Vida - Naomi Kawase


A delicadeza e poesia da diretora Naomi Kawase pode ser vista em filmes mais singulares como Hanezu - já comentado aqui - , intimistas como O Segredo das Águas - também com comentários no blog - ou mais narrativos e clássicos como Sabor da Vida.

O Sabor da Vida mostra a relação entre o dono de uma pequena lanchonete/doceria e uma senhora que circula pela vizinhança e um dia se oferece pra ajudá-lo na cozinha.

Ali se dá a química, de uma bonita relação entre os dois companheiros e os doces que vão sendo feitos.

Os dois vão pouco a pouco se conhecendo e se confortando, curando suas amarguras, numa trajetória poética, mas também um pouco previsível e sem grandes surpresas.



Passo a passo de uma receita com final não extritamente açucarado, mas certamente bastante harmônico, deixando um desejo de mais temperos para nos satisfazer completamente.