quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Boyhood - Richard Linklater


O interesse de Richard Linklater pelo cotidiano é notável, ele se destaca em filmes que encantam pelos diálogos realistas e corriqueiros e pelos dramas corriqueiros do dia-a-dia.

Um dos principais exemplos é sua (por ora) trilogia Antes do Amanhecer/Pôr do Sol/Meia-noite, já comentada aqui. Ali Linklater promove encontros em duas personagens e apresenta suas personalidades, vidas e embates. E no último, principalmente, apresenta também a passagem do tempo em suas vidas e a interação implícita que teria ocorrido entre um filme e outro.

Em Boyhood ele intensifica essa experiência: projeto ousado no qual filma por doze anos os mesmos atores (e não atores, como sua própria filha), os colocando em situações do cotidiano de uma família. Uma bela parceria com destaque ao já cúmplice Ethan Hawke, Patricia Arquette, e as crianças-adolescentes-jovens: Lorelei Linklater e Ellar Coltrane.

Não há grandes conflitos ou maiores intenções do que essa: apresentar os diversos dramas de casamentos, separações, maternidades, paternidades, educações, escolhas de carreira, escolhas afetivas, amadurecimento, crescimento...

Acaba tendo um tom de série de TV, já que não se pauta em um conflito central ou um único gancho, e também por apresentar diversos momentos e etapas dos personagens.

Assim como no clássico Anos Incríveis, em que vemos todo o amadurecimento de Kevin Arnold a partir de situações cotidianas, aqui acompanhamos o crescimento de Mason e os acontecimentos de sua família.

O filme tem passagens excelentes: o pai tentando estabelecer uma relação com os filhos que só vê em alguns finais de semana, as relações de irmãos, as crianças se relacionando com meio-irmãos, os diferentes pais tentando estabelecer uma educação e pedagogia comum, crises de casamento, os primeiros amores, os primeiros foras...

Além da graciosidade de ver um passado que ainda nos soa tão presente, mas já com ares de passado... Músicas de poucos anos atrás que já são "clássicos", eletrônicos já obsoletos, modas demodês...

Tudo resultando em certo sonho de quando acompanhamos personagens que nos cativam: ver a sua progressão ao longo do tempo, ao longo da vida...

Mas como em tudo, as elipses são importantes, o filme poderia condensar um pouco mais alguns fatos ou talvez dispensar alguns acontecimentos, já que não os contextualiza ou os aprofunda.

Por exemplo: ao final, a mãe sofre com a crise do "ninho vazio" na partida dos filhos, mas o fato de suas crises particulares não terem sido apresentadas e o filme nunca ter se aproximado de seu ponto de vista faz com que a cena acabe não impactando tanto e acabe deixando apenas um gostinho de quero mais.

Ou o primeiro namoro de Mason, que ganha muito destaque e quase ensaia virar um filme dentro do filme.

Também as cenas musicais (interesse já apresentado por Linklater em outros exemplos como Escola de Rock) são outro exemplo de que "menos" poderia ser "mais".

Mas tirados alguns detalhes, o filme é muito bom, e uma iniciativa que merece ser realmente aplaudida!!

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