segunda-feira, 23 de junho de 2014

Dominguinhos - Joaquim Castro, Mariana Aydar e Eduardo Nazarian


A música é um dos reconhecidos legados da cultura brasileira, por isso temos visto se multiplicarem os filmes sobre nossos grandes artistas.

Há diversos tipos de filmes e abordagens, desde os que recriam a história dos artistas em ficções, como Cazuza - o tempo não para ou Somos tão jovens e o retrato de Renato Russo e seus companheiros de Brasília, recém comentado aqui.

Também as versões documentais, como aqueles que se lançam sobre o material como Uma noite em 67;

Ou há os que fazem espécies de longas reportagens sobre o artista, como Raul - o início, o fim e o meio Itamar Assumpção em Daquele Instante em diante ou Loki - Arnaldo Batista ou sobre um "coletivo", como Lira Paulistana, todos comentados aqui.


Há ainda os que tentam recriar a atmosfera do momento como Tropicália, também comentado aqui.

Entretanto, há ainda um outro jeito de documentar um artista, uma maneira sutil e poética que os jovens cineastas Joaquim Castro, Eduardo Nazarian e Mariana Aydar captaram.

Dominguinhos começa com imagens poéticas que tentam reconstruir sons e imagens da infância do artista, sem nenhuma descrição ou depoimento. A narração é puramente audiovisual e parece se aproximar do artista e sua obra com muito mais força do que a de qualquer palavra sobre ele.


Em meio a essa construção poética, cenas de shows e de bastidores com Dominguinhos.


Algumas fotos e alguns depoimentos ajudam a reconstituir um pouco da biografia, sem grande rigidez cronológica, deixando claro que a intenção não é tanto a narrativa mais informativa (ao menos não racionalmente). 


A narrativa parece mais sensitiva, nos aproximando mais da obra e através dela, aí sim, chegamos ao músico.

Sua arte pouco a pouco ganha vida no universo que os cineastas retratam: o sertão, o céu, a flora...


E transborda lirismo na pessoa e nas canções.


Talvez alguns excessos de construção sonora e imagens poéticas, mas nada que comprometa.


Pérolas como parcerias suas com Luiz Gonzaga em cenas antológicas entre os dois (como o "repente de xaxado").

Ou uma longa e poderosa lista incluindo Gilberto Gil, Gal Costa, Elba Ramalho, Hermeto Pascoal, Djavan.

Ou, em uma das cenas mais bonitas do filme, com Nana Caymmi. Emoção indescritível, de uma gravação que vale a pena conhecer (de música lindíssima importante de ser lembrada). 

A construção despretensiosa, em cenas singelas aos poucos vai nos tomando pela poesia ao mesmo tempo simples e profunda de Dominguinhos.

Que registro mais justo poderia ser feito ao artista?


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