terça-feira, 29 de outubro de 2013

A gangue dos jotas (la bande des jotas) - Marjane Satrapi


A iraniana Marjane Satrapi é uma artista que merece atenção. 

Seu primeiro filme, Persépolis, foi inspirado em seus quadrinhos e traziam um interessante relato sobre a condição feminina no Irã, de maneira corriqueira, casual e bem humorada.

Depois veio Frango com ameixas, romance bonito, lúdico e delicioso - já comentado aqui.


Agora Satrapi protagoniza uma crônica de realismo fantástico em A gangue dos jotas.

Ela vive uma figura bastante excêntrica, munida de humor negro.

E que se une a um casal de homens  simpático, aberto e fluído. 

Juntos eles vivem uma aventura pela Andaluzia.

Narrativa simples e que não envolve muito. Seria um bom telefilme ou episódio televisivo, no cinema fica sem graça. Ainda mais diante da expectativa que Satrapi pode nos gerar... 

O Jardineiro (bagheban) - Mohsen Makhmalbaf



Um dos principais nomes do cinema iraniano, Mohsen Makhmalbaf apresenta seu novo filme: O Jardineiro.


Este docudrama fala sobre a religião Baha'i que defende o não preconceito e a comunhão entre pessoas e natureza, principalmente as plantas, representados por um lindo jardim,  espécie de templo para os devotos.

A partir dos preceitos dessa religião, Makhmalbaf também questiona seus próprios princípios e encena situações de conflito e aprendizado entre ele, seu filho e seguidores do Baha'i.

O filme tem imagens, cenas e diálogos muito bonitos. Por exemplo a brincadeira com reflexos de espelhos, lembrando As Praias de Agnes, de Varda, já comentado aqui.

Mas no geral é simplório, pobre cinematograficamente e imaturo na linguagem. Um faz de conta que não convence muito e deixa a desejar.

La jaula de oro - Diego Quemada-Diez



O diretor espanhol Diego Quemada, bastante experiente em fotografia estreia agora na direção do longa La jaula de oro.

Interessante principalmente pelo contato com a América Central, que dificilmente chega por aqui e quando chega é sempre via México. 

Neste filme guatemalteco vemos mais uma vez jovens em busca de sonhos de futuro. Cruzando fonteiras e pondo em risco suas vidas (sendo maltratados por policiais, saqueados por bandidos, roubados, espancados, estuprados, humilhados).

Resta a eles uns aos outros, a turma de amigos que vai se perdendo. E mesmo entre eles há desconfiança e impotência neste cuidar.

Desamparo é a palavra que nos fica.

Bonita história, apesar de não ter frescor (já vimos várias vezes as tentativas de outros para chegar aos EUA) e bem contada.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Miss Violence - Alexandros Avranas


Dialogando com seus pares, Alexandre Avranas faz lembrar profundamente de Canino de Lanthimos.
Aqui também temos um universo bastante particular, violento e doentio.

O filme começa extremamente instigante, mas perde um pouco a mão em exageros, comprometendo seu realismo e a relação do espectador com a trama.


A mulher do policial (Die fraus des polizisten) - Philip Gröning


História densa e interessante em filme autoral e estiloso.

Linda forma poética e lúdica de interação entre mãe e filha. Dramática trama familiar.


Inside Lewin Davis - Joel & Ethan Coen


Irmãos Coen em boa forma, personagens autênticos agora em tom mais indie.
Talvez um pouco mais curto ficaria ainda melhor.




domingo, 13 de outubro de 2013

O Capital - Costa-Gravas


O diretor grego Costa-Gravas encara o desafio de tentar entender e explicar um pouco a que ponto do capitalismo nossa sociedade chegou. O Capital entrama personagens do sistema financeiro e seu entorno.

Gravas reúne um elenco interessante, do marroquino Gad Elmaleh, de filmes como Espuma dos Dias - já comentado aqui.

Passando pela francesa Céline Sallete, de filmes como Apollonide e De ferrugem e osso - também comentados aqui. Céline faz uma personagem secundária, mas de extrema importância para a trama, já que é possivelmente o único ponto de identificação entre filme e público.

Ou o irlandês Gabriel Byrne, que recentemente pode ser visto protagonizando a série In Treatment. e que vive o principal vilão.

Personagens frios e calculistas que se veem em xeque o tempo todo e por isso tentam sempre antecipar os passos e se colocar à frente, ou cobras que tentam comer cobras.

Narrativa principalmente baseada nos diálogos, mas apresentando um universo onde circula muito dinheiro, assim locações e figurinos esbanjam luxo e brilham aos olhos.

Também os atores que oscilam entre a aridez da esfera política e mercantilista e entre o extremo da beleza e da vida das aparências.

Muito boa a apresentação do cenário e importante por mostrar a que ponto chegamos e podemos chegar. 

Para um público mais humanista, o filme pode chegar seco demais e não envolver muito, já que busca uma relação racional com seu público sem gerar muita emoção (talvez raiva e indignação, mas com pouca identificação com as personagens). 



Mas resulta em uma boa aula sobre os tempos em que vivemos...



quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Foxfire - Laurent Cantet


O diretor francês Laurent Cantet tem um olhar voltado para as diferenças: culturais, etárias, de gênero.

Bastante conhecido pelo filme Entre os muros da escola, no qual apresenta a diversidade de alunos em uma escola na periferia de Paris. Cantet propõe situações e deixar os atores (ou não atores) a desenvolverem espontaneamente, chegando a um resultado quase documental, com importantes questões de pedagogia e sociabilidade, mas de maneira orgânica e fluida.

Também é autor do instigante e profundo Em direção ao sul, onde mulheres de meia idade viajam para um hotel paradisíaco na África e desfrutam da região - desfrutam no sentido de que se aproveitam de seus frutos, seja comendo e bebendo o que empregados lhes servem ou mesmo se aproveitando das pessoas.


Agora Cantet volta novamente às origens escolares, pois é ali que se dá o estopim para que seja criada a gangue Foxfire.

Baseado no romance de Joyce Carol Oates, a história vai desde a formação do grupo, quando garotas marginalizadas pelo círculo social escolar resolvem se unir até seu crescimento literalmente desenfreado.

Na escola, as garotas não encontram espaço para serem ouvidas pelos homens, a não ser que seja para satisfazer seus desejos. Assim sofrem abusos e humilhações e resolvem dar o troco.

Começam em pequenas e justas vinganças e vão ambicionando cada vez mais.

Já não basta revidar humilhações, é preciso buscar uma nova vida. Já não basta se manterem um grupo unido, é preciso expandir.

E assim o grupo começa a ser procurado por outras garotas que também querem ter seu espaço e não sofrer opressão.

Porém há um limite para que as Foxfire atuem, não dá para passar por cima de todos impunes. E elas tem que pagar pelos delitos.

Mesmo após detenções, as garotas não se intimidam e voltam para uma experiência mais radical: uma tentativa de vida em comunidade, longe de qualquer preceito machista.

Cantet tenta contar a história sem sentimentalismos e em certa crueza narrativa, porém acaba não nos aproximando nem das personagens e nem tampouco nos dando uma dimensão distanciada dos fatos.


Fica um filme no meio do caminho, que apresenta vários percursos e possibilidades, mas não aprofunda. 

Algumas sementes plantadas tem grande mérito, por exemplo, o casting e a atuação das garotas;

E a maneira como mostra a complexidade em se adotar atitudes extremas: as Foxfire para defender uma posição e uma libertação, acabam oprimindo a elas mesmas. Na tentativa de democracia acabam subvertendo aos seus próprios princípios.

Assim o filme acaba, através desse grupo, apresentando várias dimensões políticas envolvidas. Mas nos cansa com o excesso e ao mesmo tempo nos deixa com gosto de quero mais. Em todos os sentidos.