sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A Humanidade - Bruno Dumont


Bruno Dumont vem se destacando nas últimas décadas como um cineasta de densos e instigantes thrillers psicológicos.


Foi assim desde seu primeiro longa: A Vida de Jesus seguido do aclamado A Humanidade.

A Humanidade acompanha um funcionário público em uma cidadezinha no interior da França que divide sua vida entre as tarefas no posto policial e a investigação sobre um assassinato de uma menina;

Sua vida domiciliar com a mãe, encontros e passeios com a vizinha e seu namorado;

Ou ainda momentos em que ele se relaciona (ou que o relacionamos) com a paisagem local - (algo recorrente em seus filmes e que foi muito explorado também no mais recente Fora de Satã - já comentado aqui).

O mérito de Dumont é realmente a construção de personagens, em toda sua profundidade e complexidade. Com tempos próprios construídos através da mise-en-scène, interpretação, diálogos (ou ausência de) e montagem.

Também pela densidade de cor e enquadramentos da fotografia e trabalho sonoro.

O filme tem um peso e um ritmo próprios, mas que são justamente o que nos insere nesse universo tão particular e ao mesmo tão universal. Essa humanidade "bizarra" e que nos diz tanto respeito. 

Faz lembrar tanto mundos de tédio e horror como alguns de Gus Van Saint ou Larry Clarck. Ou ainda o mundo de personagens peculiares de Gaspar Noé - já comentado aqui, David Cronenberg também comentado aqui ou até de clássicos do mestre Dostoievski.

Muitas camadas, muitas leituras, muitas emoções (implícitas), muitas interpretações (por exemplo as de Cléber Eduardo no site Contracampo)... Interpretações da personagem perturbada, com dificuldades sobre sua sexualidade, suas relações, seus sentimentos... Interpretações sobre sua generosidade, sua dor,  seu horror, seu exercício de perdão...

Difícil de assistir e digerir, exatamente pelo tanto que impregna:

Os sentimentos, sensações e imagens tem tanta força que permanecem conosco e nos deixam buscando mais das personagens... Pelas lembranças do filme ou por nós mesmos.

Que Bruno Dumont siga com suas interpretações de novas humanidades em muitas outras obras por aí...

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