segunda-feira, 1 de julho de 2013

Antes da meia-noite (Before Midnight) - Richard Linklater


Terceiro filme da série de Richard Linklater em parceria com os atores Ethan Hawke e Julie Delpy.

No primeiro, Antes do Amanhecer, dois jovens de 20 e poucos anos se conheciam num trem e passavam uma noite juntos em Viena. O diferencial do filme: o foco no diálogo e na interação das personagens.

Sem grandes ações que não aquelas para dar um pouco de corpo ao texto e o destaque para o embate de ideias e compartilhamento de visões de mundo, sonhos, confissões...

Todas as palavras que poderiam caber em um intervalo de poucas horas entre um casal.

Muito falado, um pouco monótono. Quase uma DR cinematográfica de duas horas. Um formato não para todos, mas que realmente conquista alguns, talvez exatamente por seu diferencial.

E o final em aberto do primeiro filme instigou a curiosidade dos fãs do filme e incentivaram a realização do segundo: Antes do Por do Sol. O reencontro do mesmo casal cerca de dez anos depois em Paris


Uma janela para mostrar por onde andavam os sonhos e expectativas daqueles jovens... O idealismo modificado na idade madura, o romantismo mais envelhecido, as novas opiniões e vivências, os novos sonhos...

E as mudanças da expectativa que eles teriam um diante do outro, após quase dez anos de outras vivências amorosas.

Novamente a dinâmica de conversa entre eles foi apaixonante: conhecê-los mais, seus defeitos, qualidades e desejos. Compartilhar o enlevo de um com o outro e poder viver a DR e o idílio por mais duas horas.

E agora o terceiro: Antes da Meia-Noite. Dessa vez a dinâmica bem diferente: não algumas horas de hiato na vida desse homem e dessa mulher, mas algumas horas na vida de um casal.

Aqui, Celine (Delpy) e Jesse (Hawke) estão casados e passando férias na Grécia - a dinâmica dos encontros pela Europa se mantem.

A ideia de férias também trazem um diferencial que não o do cotidiano do casal, mas nas conversas não mais apenas sonhos etéreos e especulações.

Interessante acompanhar o "filosofar" de um casal, suas opiniões a respeito do mundo e isso refletido nas posturas diante da relação.

Mas no filme fica fraca a insinuação da vida cotidiana deles. Eles parecem manter a relação etérea e e sonhadora diante da vida (que agora tem a presença de filhos, contas, horários, trabalhos, planejamentos, louças etc), só que com o dia-a-dia delineado de forma vaga.

Mais interessantes quando eles se apresentam diante de outras personagens, sejam os filhos ou amigos, pois vem de maneira mais orgânica com a dinâmica da estrutura do filme: do apresentar ideias. Não há como ter frescor e surpresa neles apresentando visões de mundo um ao outro o tempo todo.

Quando eles se apresentam a outras personagens voltamos a conhecê-los em pitadas instigantes, mas quando eles se apresentam um ao outro fica um pouco desgastante. Inverossímil eles receberem as palavras um do outro como se fosse novidade.

A crise que surge pela geografia mais uma vez (onde morar) faz parte de todos os filmes, ou seja, convive com eles há 18 anos deveria vir com mais gastura dos argumentos, de pessoas que já passaram por essa crise e essa discussão infinitas vezes. 

O modo como essa crise chega no momento do filme sem dúvida que permite considerações inéditas (e de fato trazem), mas não poderia ser o tom geral.

Faz ficar menor a experiência de combinação do hiato com o "tudo" que deveria estar preenchido.

A experiência ainda continua criativa e diferente (poucos filmes se arriscam nessa linha - o brasileiro Apenas o Fim, comentado aqui, é um raro exemplo), as personagens continuam encantadoras (ainda que se tenha ressalvas (como poder achar Celine histérica, por exemplo), mas a proposta de avanço na relação do casal deveria ser seguida de um avanço na proposta narrativa.

Por isso e pela história começada há quase duas décadas, segue a curiosidade de seu desenrolar e de novos possíveis filmes que venham a seguir... 

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