sexta-feira, 31 de agosto de 2012

E agora, onde vamos? (Et maintenant on va où?) - Nadine Labaki


Segundo filme da atriz e diretora Nadine Labaki, diretora de Caramelo, que lança dessa vez E agora, onde vamos?, destaque em 2011 em Cannes e vencedor do prêmio do juri popular em Toronto.


O filme mistura gêneros e linguagens para abordar um argumento bastante interessante:

Em uma pequena comunidade libanesa, com a população dividida entre católicos e muçulmanos, as guerras - nada santas - ocorridas ao redor influenciam os homens, seu ódio e desejo de vingança. 

Por isso, as mulheres, exauridas pelos lutos constantes,  lançam mão a todas as "armas" possíveis para impedir novas brigas e mortes.


A luta vai desde encenações até dolorosas omissões, dialogando um pouco com filmes mais fantasiosos como o ótimo Trem da Vida, de Radu Mihaileanu.

A temática do filme é sem dúvida extremamente dramática, chegando a lembrar o excelente e profundamente triste Tartarugas podem voar, de Bahman Ghobadi, mas as farsas e brigas são tratadas com bastante humor. 

Nadine explora também outras linguagens, iniciando o filme com uma belíssima cena de dança;

Ou em cenas de musicais (que podem causar estranhamento para nós, mas em sua cultura é algo mais fluente, como o caso dos filmes indianos).

E agora, onde vamos? explora situações extremamente angustiantes com bom humor e criatividade - além de bons atores, locações, fotografia, arte, som, montagem...

E mesmo que todas as cenas não sejam extremamente primorosas (talvez por certa irregularidade dada justamente pela mescla de tons), se torna um grande filme, que vale ser visto por todos!


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A vida de outra mulher (La vie d'une autre) - Sylvie Testud


Estreia na direção de longas da atriz Sylvie Testud, conhecida, entre outros, pela participação em Piaf.

A Vida de Outra Mulher é inspirado por um argumento bastante interessante, de mulher que desperta um dia sem lembrar de nada a respeito de seus últimos anos. 


Assim, não reconhece seu filho, a ascensão na carreira, as crises no casamento... Nenhuma das mudanças pelas quais passou...

Marie Speranski, vivida pela talentosa e carismática Juliette Binoche, tem que se redescobrir e de certa maneira se reinventar (como coloca Paul, seu marido - ou ex - vivido por Mathieu Kassovitz).

E essa redescoberta e reinvenção, além de momentos divertidos, curiosos e engraçados, trazem também melancolia, drama e uma abordagem sobre o  "tempo" de maneira mais intangível...

Não é à toa que em uma das cenas Marie está lendo o clássico de Proust.

E aí que está o mais interessante do filme, que é bem executado (boa fotografia, arte, elenco), mas que tem também variações muitas vezes estranha de tom 

(o que pode ter a ver com a cultura francesa, já que tem semelhança com alguns problemas de ritmo de outros filmes de lá, como o recente Delicadeza do Amor, já comentado aqui.). 

Mas o mais tocante do filme é esse questionamento sobre as bifurcações que a vida pode ter, as escolhas que fazemos, o que podemos ou não recuperar...



O tempo está ou não perdido...?




quarta-feira, 29 de agosto de 2012

360 - Fernando Meirelles


Grande diretor, Meirelles segue em carreira ascendente, desde as experimentações televisivas fosse com  Ernesto Varela ou Ratimbum

Passando pelo estrondo que o destacou no cinema nacional e o revelou para o mundo, Cidade de Deus, ou em suas ambiciosas incursões internacionais, como Jardineiro Fiel (sua melhor experiência) ou Cegueira...

Meirelles - assim como nosso outro diretor internacional, Walter Salles, recém comentado aqui - se coloca na estrada, neste caso, mais precisamente na ponte aérea. 

Seu novo filme, 360, tem um alto grau de ambição: pretende dar a volta ao mundo em um filme multiplot, com personagens (e atores) de diversos países.
Anthony Hopkins, Rachel Weisz, Jude Law, Jamel Debbouze, Maria Flor...

Filmes como esse tem sempre a difícil tarefa de ir além da colcha de retalhos, superar os pequenos trechos de história e plantar um algo mais... 

Como o mestre dos multiplot Robert Altman soube fazer em filmes como Short Cuts, ou no excelente Felicidade de Todd Solondz ou ainda o interessantíssimo Antes da Chuva de Milcho  Manchevski, já comentado aqui


Para um bom filme multiplot é preciso além de boas pequenas histórias, que neste caso foram inspiradas por Arthur Schnitzler, autor bastante explorado por cineastas (como, por exemplo, Stanley Kubrick, conforme comentários feitos aqui). 

Além da multiplicidade, é preciso dos plots, dos conflitos, dos enredos... É preciso da maestria para construir lacunas, sementes que não poderão se desenvolver longamente, mas que poderão se manter presentes ao espectador...

360 esboça percursos intrigantes, densos, envolventes. A direção de atores e o ritmo instigam verdadeiramente. Mas a narrativa não convence... 

Talvez o roteiro (de Peter Morgan) que tenha buscado além de voltas, também reviravoltas em 360 graus, deixe o filme sem grandes curvas, e com amarras caretas, que buscam um sentido entre todas as histórias e acabam parecendo uma moral reducionista (uma das falhas também de Cegueira, no discurso final da personagem de Danny Glover ou outros filmes semelhantes como Babel, de Alejandro Iñarritu).

Explorar personagens que passam por nossas vidas, nos mostrando apenas um recorte, com todas as curiosidades e profundidades possíveis é interessante.

Mas tentar conectar a todos, dar sentido, explicar (como na péssima fala da terapeuta) em uma chave realista resulta em um filme um pouco morno, que roda e para no mesmo lugar...

Afinal, as personagens despedaçadas e em conflitos, já estão unidas por sua busca por amor (em seus casamentos, suas separações, seus romantismos, suas famílias, a si próprios...). 

Independente das histórias diversas de prostituição, perversão sexual, abandono, alcoolismo, tráfico de drogas, há melancolia em todas elas, certo sentimento de estrangeirismo e de busca...

Por isso a sensação de certo desperdício de sementes plantadas e da mão de um diretor tão bom, o potencial estava ali...
Que venham então os próximos!!!


terça-feira, 28 de agosto de 2012

Na Estrada (on the road) - Walter Salles


Quase sempre "na estrada", seja na "estrada"marítima entre Brasil e Portugal do belo e vigoroso Terra Estrangeira, seja na estrada clássica e muito bem realizada da Central do Brasil até o sertão nordestino;

Seja na estrada internacional e sem grandes conflitos e em certo desperdício de personagens de Diários de Motocicleta ou agora, inspirado pelo romance de Jack Kerouac, On The Road, é aí que Walter Salles parece estar em "casa".

Walter conhece esse caminho, e construiu personagens interessantes por espaços bonitos e bem narrados, 

mas a maneira de percorrer a estrada sem tantas curvas, como se sempre fosse a espera de uma descoberta, a espera de algo, deixa o filme sem tanta força.


Ele tateia uma linguagem diferente, mais jovem, mais misteriosa, mais poética...



E nesse aspecto o filme é bem envolvente: movimentos de câmera, fotografia, trilhas, arte, direção de atores... 

Aliás, bem variados e bons, dos mais comerciais aos mais cults, dos mais novos aos mais experientes.

O que falta ao filme é trazer mais corpo nessa poesia, deixar o etéreo mais palpável... Grande desafio, mas que poderia ter feito do filme algo mais impactante...

Mas Walter Salles sempre acrescenta, não importa a estrada, e que sua trajetória seja bem longa!

Um Mundo Secreto - Gabriel Mariño



Estreia em longas-metragens do jovem diretor mexicano Gabriel Mariño, que aponta uma trajetória bastante promissora... 


Um Mundo Secreto conta a história de uma jovem de classe média perdida, perdida após a formatura do colegial, perdida sem a clareza de um rumo para o futuro, perdida em uma viagem aventureira (buscando libertação? ou vínculos?), perdida em seus pensamentos, perdida na dificuldade de agir de acordo com as convenções, perdida na dificuldade de se relacionar com o mundo, perdida em seus sentimentos prestes a extravasar...


Poderia resultar em cenas clichês de uma geração indie, mas não...

Filme feito de maneira simples: equipe pequena, poucos recursos, muita raça, que se refletem no filme pelo tom intimista, as imagens e metáforas fortes, a intensidade da história e das personagens, o frescor do ritmo (embora também tenha seus problemas). 

Faz lembrar outro exemplar, já da década passada, da argentina Lucrecia Martel, a obra-prima O Pântano, já comentado aqui.


Salve o cinema latino-americano! E que venham mais!