sexta-feira, 18 de maio de 2012

Raul - o início, o fim e o meio


Documentário musical de figura ilustre. Difícil não se interessar pela genialidade e espontaneidade do rockeiro Raul Seixas. (Trabalho de garimpo com material brilhante per si, (como outros como Uma Noite em 67, já comentado aqui)


Entretanto a abordagem de Walter Carvalho, em parceria com Evaldo Mocarzel e Leonardo Gudel, é irregular - do glorioso ao tom de fofoca, dos registros ilustres aos registros desnecessários.

Realmente deixa transparecer a obstinação precoce de Raul pelo rock, sua intensidade em tudo que fazia, sua afetuosidade, sua criatividade, sua versatilidade...

Isso tudo está lá, impresso em alto e bom som!

Mas o documentário se perde um pouco em meio a tanto material e não se aprofunda nas personagens. Mais do que não se aprofundar, se deixa levar por primeiras impressões e nos leva no mesmo caminho... 

Explora bem alguns depoimentos mais ilustres como de Caetano e Nelson Motta, mas apenas pincela com Tom Zé, por exemplo.

Acaba propiciando certo constrangimento com as figuras desconhecidas que dão seu depoimento como uma possibilidade do minuto de fama.


O garimpo por tantas pessoas da infância e juventude de Raul são de tanta riqueza que gastar um pouco mais de tempo com elas, deixando passar a ansiedade da entrevista e chegando ao âmago de outras questões talvez tivesse sido mais interessante.


E acaba incentivando também questões em tom de intriga, sobre quem teria sido o melhor parceiro ou melhor parceira. 

Ao invés de focar sobre o que teve de contribuição de cada um na vida de Raul, questão que acaba ficando mais passageira.

Essa abordagem por um lado é reveladora dos conflitos pelos quais Raul viveu, mas também dão um tom de investigação que de certa maneira não nos leva a nenhum lugar especial.



E acabam gerando inclusive certo desconforto pela exposição de filhos, netos e ex-mulheres.



 Que muitas vezes parecem buscar um discurso específico para a câmera e não um discurso com revelações e confissões mais profundas.

Um lado intimista de Raul que poderia ser mais revelador! (que está mais rascunhado pelas imagens de arquivo).



Por exemplo ao final, em certa reconstituição dos passos daqueles que acompanharam os minutos finais desse grande ídolo. Desnecessário.

O resgate histórico do material iconográfico e principalmente sonoro é riquíssimo, mas a abordagem infelizmente fica aquém.


Principalmente pela expectativa provocada por esse excelente diretor de fotografia (entre os mais recentes: Terra Estrangeira, Lavoura Arcaica, O Céu de Sueli, Santiago, Heleno) e por esse diretor já consolidado com o belíssimo documentário Janela da Alma, a boa ficção Cazuza, o tempo não pára ou mesmo a adaptação de Budapeste, já comentado aqui.

Sem a pretensão de ver Raul em seu início, seu fim e seu meio, ressaltam pérolas de passagens como:
"quem não tem presente se conforma com o futuro". 

ou: "No cume calmo do meu olho que vê, assenta a sombra sonora de um disco voador..."




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