domingo, 11 de dezembro de 2011

A Pele que Habito (la piel que habito) - Almodóvar



Almodóvar é um cineasta de tintas fortes, personagens exageradas, tramas intensas.  

É capaz de obras interessantes e muito divertidas como um de seus primeiros filmes Pepi, Luci e Bom ou o clássico Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos - nelas há tons cômicos e farsescos e muitos histrionismos bem orquestrados.


Mas é capaz também de filmes dramáticos nos quais há uma ímpar humanidade em suas personagens, propiciando aproximação e identificação do espectador (ainda que haja certa dose de caricatura...).


Foi assim na sequência Carne Trêmula,
Tudo Sobre Minha Mãe e Fale com Ela

Histórias nada convencionais mas nas quais havia sentimentos muito bonitos: uma delicadeza em crimes, bizarrices e rompantes emocionais. Primor raro!


Agora em seu novo filme:
La Piel que Habito, Almodóvar se inspira no livro de Thierry Jonquet para criar uma dramática e pungente ficção científica.

Faz lembrar o clássico de Cronenberg: Dead Ringers - Gêmeos, Mórbida Semelhança (já comentado aqui), pela trama instigante, o drama profundo e pelas personagens excêntricas (médicos desafiando a ciência de acordo com seus desejos e instintos).


Mas sem dúvida remete também ao próprio Almodóvar, pela sua explosão de cores na foto e na direção de arte.



Entretanto o filme peca pelo excesso: excesso de histórias, excesso de reviravoltas, excesso de drama... Em alguns momentos chega até a parecer uma novela televisiva...

Por exemplo por seu excesso de personagens e tramas.

Começando pelo protagonista cheio de traumas, complexos e perversões e interpretado de maneira lacônica por Antônio Bandeiras - a frieza, que poderia ser um ponto positivo, não tem a dimensão da profundidade necessária e acaba não convencendo. 

A alusão que há de outras histórias paralelas também incomodam, por exemplo de seu irmão (personagem falsamente brasileiro - o que para nós chama mais ainda a atenção e incomoda pelo sotaque e por uma menção ligeira ao tráfico nas favelas).

Ele surge sem muita apresentação, vestido com uma fantasia de tigre, traindo a todos e não demonstrando nenhum sentimento e desaparece sem que tenha provocado nossa curiosidade para nada, nem deixado nenhuma marca.

Para a apresentação dessas personagens secundárias ainda são explorados recursos pobres como flashbacks e narrações, que não condizem com os temas profundos que estão sendo tratados...

Sexualidade, transexualidade, incesto, desejo, amor, morte...

O potencial que o filme tem com suas questões psicanalíticas, acabam se perdendo em um rococó narrativo... 

As questões tão interessantes que poderiam permanecer com força e vivacidade acabam se misturando, se perdendo e se diluindo pelo cansaço que o filme gera...


Valem as reflexões, mas a experiência cinematográfica deixa a desejar!



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