segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Kaidan Horror Classics


Esperando o imaginário de horror japonês que inspiram as adaptações americanas como O Chamado ou mesmo a EUA-brasileira Água Negra de Walter Salles, me surpreendi ao me deparar com lendas fantásticas.

Na primeira história de Kaidan Horror Classics, a premissa de um homem que recebe o braço de uma mulher emprestado já me interessou bastante. 


Na segunda, as dores femininas reprimidas me tocaram (e ao mesmo tempo incomodaram por certo machismo). 


Na terceira, com mais cara de lenda, sobre um homem com um nariz monstruoso, tinha o ritmo e direção que me levaram de fato a esse mundo longínquo. 

Já o mestre Kore-eda, de Depois da Vida, que fecha a série, me pareceu mais intimista e real. Mesmo com personagens espíritos, ele fala da dor da morte, do luto e da despedida com uma delicadeza que envolvem.

Me pareceu uma bela iniciativa da NHK nessa série televisiva, como Luis Fernando de Carvalho na Globo ou outras raras experiências semelhantes mostram o poder da magia audiovisual possível em diferentes janelas, inclusive as mais restritas e comerciais...




Vale a pena a poesia desse "horror"...


sábado, 29 de outubro de 2011

Habemus Papam - Nanni Moretti


Coqueluche da 35a Mostra de São Paulo, tanto por ser unanimidade entre os críticos quanto pela dificuldade da chegada da cópia, Habemus Papam sem dúvida alguma é um bom filme.

Já de partida com sua premissa original e ótima direção (atores, decupagem, fotografia, som...), Nanni Moretti me instiga: como seria uma crise de um padre que é eleito papa?

Vemos esse novo papa petrificado diante de sua posse, começando uma psicanálise e com companheiros tentando auxilia-lo. 



Os tabus envolvendo a vida casta e a abordagem terapêutica, a cobertura papa-razzi de celebridade, o mundo paralelo que se dá entre as quatro paredes do Vaticano, tudo parece anunciar uma comédia criativa, inteligente, interessante. 

Mas Moretti não aprofunda a psicologia e acaba trabalhando mais com a superfície, as aparências, paralelos rasos.


(como partidas de volei entre os cardeais comandadas pelo técnico-terapeuta vivido pelo diretor-ator)...

Uma pena que o filme não mantenha a genialidade do seu primeiro terço e termine sendo apenas bom.

Principalmente porque Moretti fez o que para mim é um dos grandes filmes da década passada, O Quarto do Filho.


Aqui ele fala do delicado tema da morte, a partir do ponto de vista do pai (e também psicanalista  e também vivido por Moretti). 

Além da densidade e sensibilidade com que trabalha o tema, Moretti apresenta a história em uma estrutura inusual e profundamente envolvente: 

Só há um turning point, uma reviravolta - a própria morte - todo o resto é a assimilação do conflito, o emaranhado das relações, o crescente tortuoso do luto e o sinal do adiante...

De qualquer maneira, em uma experiência ou em outra, Moretti vai se estabelecendo como um dos principais nomes do cinema italiano contemporâneo:

Com temáticas diversificadas, tons que variam do dramático ao cômico passando por momentos trágicos e farsescos, direção madura e roteiros e propostas de linguagem originais!
Que venha o próximo e amém!




Tatsumi - Erik Kwoo



Documentário animado baseado na autobiografia do desenhista japonês Yoshihiro Tatsumi.
O diretor de Cingapura, Erik Kwoo, aproveita os próprios desenhos e traços do mestre para recontar sua história em uma grande homenagem.


O filme em sua proposta e esteticamente é bastante interessante, porém a história que é contada é cheia de detalhes e com uma narração que para mim é muito formal e sem sentimento e acabam resultando em um filme excessivamente didático...


Vale mais como registro histórico, mas me falta como cinema.

Os Órfãos


Estréia na direção da jovem austríaca Marie Kreutzer. Ela cria uma história ambiciosa de conflitos de família gerada e criada em uma comunidade "hippie" e depois dispersada por diferentes motivos.

Quatro irmãos então retornam por conta da morte do pai e vão tentar entender os motivos por cada um estar distante, quais as mágoas, os segredos e os sentimentos mal resolvidos de cada um.

Porém a construção do enredo é extremamente teatral, cheio de vai e vem, decide e "desdecide" que soam inverossímeis, nos afastam da trama e dos sentimentos das personagens.

E aí o que o filme poderia ter de mais bonito, que é esse investimento na intimidade e na profundidade de cada um, se perde completamente...


O filme acaba parecendo longo, maçante e até clichê, já que sem nos conquistar, parece apenas mais um conflito de família, como as centenas que vemos em diferentes filmes e novelas...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Oslo, 31 de Agosto




Adoro filmes debruçados em personagens em crise. 
Ainda mais quando tão bem construídos. 
Ainda mais quando dialoga com acontecimentos que já conheci...



Baseado na obra de Pierre Drieu La Rochelle - Le Feu Follet (que também inspirou Louis Malle para o clássico 30 Anos Esta Noite - uma de minhas lacunas cinematográficas),

Oslo, 31 de Agosto fala de um rapaz de 30 e poucos anos que está começando a receber alta de um longo tratamento de dependência química e se vê angustiado diante do mundo que terá que enfrentar.


As situações pelas quais passa são de certo modo triviais: encontro com amigos e familiares, entrevista de emprego, festas etc. 


Mas a dificuldade dele diante de pequenos conflitos, ou coisas mais mundanas como o tédio, a convivência com pessoas idiotas, a mediocridade, a hipocrisia etc, tudo isso vai se tornando angustiante.


E essa angústia é mostrada de maneira muito contida, de certa maneira crua e por isso mesmo tão verdadeira e brutal.


Há também poesia nessa crueza, e não é por imagens contemplativas nem por uma trilha especial, simplesmente pela proximidade que nos dá de seu protagonista e a maneira como nos faz compartilhar seu mundo...


Joachim Trier mostra bastante potencial em uma de suas primeiras direções, sem referências a seu talentoso parente distante Lars, mas demonstrando ser herdeiro de uma mesma densidade de questões... Grata surpresa da 35a edição da Mostra de São Paulo.



The Forgiveness of Blood - Joshua Marston

Joshua Marston é um jovem diretor americano interessado no que se passa ao redor do mundo. Além de já ter sido jornalista em Paris e dado aulas em Praga, se iniciou em longas metragens com Maria Cheia de Graça - história de uma garota colombiana que vê no tráfico uma possibilidade de vida.

Agora, Marston investe no paradoxo entre um cotidiano bem trivial e contemporâneo de adolescentes de uma família albanesa e seus códigos ancestrais de conduta.


De maneira simples e competente, The Forgiveness of Blood mostra a insolubilidade daqueles que não perdoam e passam a vida (por gerações e gerações) se vingando.



Impossível não lembrar do nosso Abril Despedaçado, no qual Walter Salles conseguiu identificar e traduzir o livro de Ismail Kadaré para o nosso sertão. 

Aqui, em Forgiveness of Blood, há menos estetização mas até por isso mais verdade e mais tocante. Bom trabalho de Marston.






Frango com Ameixas (poulet aux prunes) - Marjane Satrapi


História de amor e inspiração artística, mostrando um outro lado da diretora de Persepólis, Marjane Satrapi dessa vez dividindo a direção com Vincent Paronnaud

A diferença do novo filme não é só pela temática (menos política, cultural e pessoal), mas muito pela linguagem. Novamente há animação, mas aqui há uma colagem de diversas linguagens: animação 2D, 3D, efeitos especiais, cinema tradicional... 


Marjane dialoga com o universo fantástico como Jean-Pierre Jeneut (de Ladrão de Sonhos e Amelie Poulain);

de Guel Arraes (de O Auto da Compadecida) ou mesmo de Tim Burton (e seu Sweeney Todd, por exemplo).



Em Frango com Ameixas vemos a história (inspirada pela vida do avô de Marjane) de um violinista em busca por um novo violino e eternamente em busca de seu grande amor.
Em parábolas, idas e vindas, flashbacks, narrações, histórias dentro de histórias, o filme mostra toda sua graciosidade e encanto. 




E nos traz um elenco fenomenal com Mathieu Almaric à frente.






E rodeado por talentosas mulheres como Maria de Medeiros,

Isabella Rossellini, Chiara Mastroiani, entre outras.


Marjane sem dúvida se torna um nome para prestarmos a atenção e esperarmos nos deleitar em novos filmes.



quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Grande Dia

Mostra é espaço para garimpar e descobrir filmes, muitas vezes de localidades desconhecidas e universos bem distantes. Por isso me aventurei ao Grande Dia, do diretor novato Keng Guan Chiu da Malásia.




Mas, entre os orientais, além de um lirismo silencioso e visual, também há um humor que não compartilho e que, nesse caso, me levou a um filme caricato e um tanto novelesco: 



Personagens de um asilo nos mostrando um emaranhado de relações - entre eles próprios e entre eles e seus familiares. 

O que poderia ter poesia e beleza dá lugar a expressões exageradas e caricatas, trilha sonora pobre e clichê, resoluções dramáticas previsíveis e sem graça, sem falar na cópia digital exibida de má qualidade...

Um grande dia que se transformou em grandes minutos e uma sessão bem dispensável...


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Desaparecimento do Gato - Sorin



Carlos Sorin é da ótima safra de ótimos diretores argentinos das últimas décadas, seu talento e sensibilidade se vê em Histórias Mínimas e O Cachorro.



Dessa vez buscou uma história mais madura, com conflitos da meia idade, classe média alta, trama aparentemente mais densa e universal. Entretanto, para mim o que ficou foi um filme menos autoral e bem menos envolvente.


De início já um diálogo muito didático e verborrágico para explicar a premissa do personagem que recebe alta de um hospital psiquiátrico após crises que interferiram em suas relações. 

Disso passa-se à retomada de sua relação com sua mulher, a verdadeira protagonista do filme que não sabe como reagir diante das mudanças sofridas pelo marido. 

Ela não sabe o que esperar dele: o homem inteligente, divertido e sarcástico com quem conviveu por toda a vida, o homem surtado e violento dos meses anteriores à internação ou o novo homem gentil e passivo que está a seu lado.


Essa crise é trabalhada dentro de um suspense psicológico envolto de situações quase fantásticas.



Na transversal desse conflito está o tal gato que desaparece... O bicho de estimação que reage às estranhezas envolvendo o marido.

O realismo com tom de terror fantástico me faz lembrar o recente brasileiro Trabalhar Cansa.


Porém Sorin é bem mais contido...

Tem mérito, mas realmente não me conquistou. Prefiro seu talento intimista para retratar o cotidiano de personagens que revelam a profundidade em sua simplicidade, partir do profundo para mim pareceu um pouco vazio...
Confira no trailer!