segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Festival Internacional de Curtas de SP 2011


Afinal, o que é um curta-metragem?
Um exercício de linguagem cinematográfica?
Formato de narrativa?
Passo possível para jovens cineastas?
(na foto eu, Quelany Vicente, dirigindo a protagonista de meu mais novo curta - Tatu Bolinha)



O curta como o nome diz é uma narrativa com outra duração... Assim como na literatura há contos e há romances. Mas como cinema é uma arte muita cara e de difícil administração (envolve uma equipe grande e muitas cifras, por mais simples que seja) os curtas muitas vezes são as primeiras experimentações de diretores... (na foto o cartaz do meu primeiro curta em película, dirigido ao lado de Andréa Midori SimãoTori, clique para conferir!)


Quando se começa a praticar cinema praticamente impossível começar pelo longa, e também muito difícil começar pelo curta sem se deixar contaminar, afinal nossas referências são de longas-metragens. Queremos construir personagens e situações com a mesma complexidade e muitas vezes tropeçamos em narrativas confusas e claramente comprimidas (como já comentei com tantos e como comentávamos eu e o diretor Thiago VillasBoas em uma das sessões).

Mas quando a administração é possível, há sempre a possibilidade de grandes pequenas obras! (que mais incomuns de serem comentadas, mas nem por isso deixa de ser um deleite, como já fiz por aqui outras vezes - por exemplo com o curta Ernesto no País do Futebol, de André Queiroz)

Esse ano vi uma meia dúzia de sessões do festival, em geral os filmes de amigos, colegas, companheiros de trabalho.


Eles me ajudaram a ser transportada para outros tempos e espaços - como os Gato do Parque: Julia Zakia e sua Pedra Bruta

Guile Martins com Licuri Surf.


Eles me aproximaram da feminilidade possível mesmo quando se está Espalhadas pelo Ar, de Vera Egito (ao qual pude rever em tela grande).



Me fizeram ver como o menos pode ser mais, por exemplo no exercício que para mim se tornou um gracioso mini-documentário em Vó Maria, de Tomás von der Osten (a quem só conheci por meio do filme).

Narrativas redondas, com imagens bonitas e argumentos interessantes em Eu não Quero Dormir Sozinho de Juliana Rojas, 49 Dias de Tati Fujimori (foto) ou Assunto de Família de Caru Alves Souza.


Também a força de personagens e seu meio em Aurora, de Roney Freitas, autor também de Laurita (já comentado aqui). Uma introspecção, um tempo paralelo, a energia, a subjetividade... 

Mais que isso: o cruzamento de subjetividades, as maneiras de cada um entender a subjetividade alheia, a maneira da própria subjetividade lidar com a do outro. Mundos profundos, trazidos e muitas vezes apenas delicadamente sugeridos na borda do filme, nas margens... Muita poesia... 

Começando pelo título, passando pela construção e se encerrando na densidade do tema: morte, que no curta longe de ter o peso da palavra, mas claro de ter a complexidade da situação.



E, o grande premiado do Festival: L, de Thaís Fujinaga, onde as crises de uma pré-adolescente estão belamente orquestradas em seus interiores de subjetividade, olhares, sentimentos, metáforas felinas... Em seus arredores ao lado de um pai que tenta fazer com que as crises de sua filha não a afastem; de colegas de esportes que há anos luz de distância já que buscam nas diferenças da menina pretextos para fazer brincadeiras e assim isola-la em sua bolha (de água, de pés machucados, e também particular de sua cabeça); e ainda a possibilidade em outro "excluído" de uma amizade genuína...


Thaís constrói imagens fortes que ecoam como ondas aquáticas, traz personagens ricas e complexas e também a singeleza de uma história com começo, meio e fim, e que não parece um longa mal ajambrado, mas um curta preciso.

Faz valer o formato e enriquecer a sessão.



Pena que um formato menos divulgado, ao qual estamos menos acostumados (a ver, construir e comentar).

Mas que bom que lindos exemplos como estes possam encher nossos olhos!
Parabéns aos curtas-metragistas!
(e obrigada ao Festival)


Um comentário:

  1. ...muito bom ter as imagens desses filmes todos ainda reverberando na cabeça #efeito-pós-festival
    Valeu pelas impressões, Beijo! ;)

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