segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Melancholia - Lars Von Trier

Para mim um dos maiores cineastas da atualidade. Mais do que por seus filmes brilhantes, por sua criatividade e ousadia... Raro um artista com tantas novas propostas e tantas facetas...

Amo desde Os Idiotas, para mim um filme profundo, visceral, tocante! História que tenta chegar às entranhas, ao que há de essencial no ser humano, desmascarar o que são máscaras. E em estética dogma-documental que lhe dá força!



Mas posso achar muito interessante o mais cerebral Europa. Ou me emocionar com um filme um pouco menos experimental como Ondas do Destino.

Mas claro que vibrar acontece mesmo em obras como Dançando no Escuro. Que talvez não seja um filme pra rever nem pra estudos aprofundados, mas seus jogos e experimentos são primorosos e muito eficientes. Lars brinca com forma narrativa (tragédia), gênero (drama musical), faz explorações em seu trabalho com atores (no caso a não atriz Bjork ao lado da diva Catherine Deneuve) e traz uma narrativa de intensa emoção, que me toca e me comove do começo ao fim.

Bem diferente das reações provocadas por Dogville e Manderlay, aqui o estilo Brechtiniano me leva novamente a uma relação cerebral com o filme: uma análise da sociedade (americana?) através de um pequeno microcosmo, uma vila, construída apenas a base de atores, um estúdio vazio, giz no chão e uma excelente montagem. 

Nos tempos de hoje, quem pensaria num filme sem cenário? Quem imaginaria prender atenção de milhares de espectadores apenas com a força narrativa do cinema? Quem ousaria por Nicole Kidman em um filme assim?

Lars Von Trier me parece um artista realmente ímpar nesse quesito.


E de sua cartola sempre vem novos coelhos, desde filmes mais simples como O Grande Chefe, como o incrível documentário Os Cinco Obstáculos: entrar em contato com um diretor que você admira e espremer sua criatividade contra a parede para ver o que sai é o que Lars faz como produtor e criador do filme... Pouco conhecido por aqui, vale a pena!


E daí o controverso Anticristo, que a mim me pega: me encanta com seu prólogo-videoarte-primor, me envolve com seu drama profundo - processo do luto, me instiga com suas referências profundas - mitos/psicanálise... 
Talvez eu entenda o excesso que muitos criticam e talvez concorde com o apontamento de certas sobras, mas talvez seja daí que venha também o vigor, a inventividade, o encanto... 

Como não se impregnar da relação de Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe? Como não sentir a depressão na pele, visualiza-la em imagens e pequenos gestos, como não sentir a perturbação de Lars na tela?

Perturbação que parece inesgotável e parece rumo a um extremo impossível... Ou possível dentro de uma quase ficção científica cinematográfica...

Melancholia começa novamente com um prólogo: outra espécie de videoarte e aqui muito mais fantástica. Um mundo paralelo com outras cores, outro tempo, outro espaço, outra gravidade...


A isso segue-se uma festa de casamento que nos faz lembrar do Lars do Dogma 95: muita câmera na mão, muitas máscaras sociais tentando ser desmascaradas, muitos conflitos latentes querendo explodir a todo momento.

Interessantíssimo, mas quase cansativo pra mim, já que beira o caricatural... Sim, todos temos nossas durezas, falta de tato, paranóias, inabilidades sociais, mas todos os presentes a revelarem e tão superlativamente... Ufa, será?

Mas aí se segue o bloco mais intimista, quando vamos adentrar mais na psique das personagens... Começamos com Justine (Kirsten Dunst) e uma brilhante construção de um estado depressivo.

A forma como Lars descreve a incapacidade da personagem de tomar um simples banho para mim é o que há de melhor no filme!


Porém para tentar tocar na essência dos sentimentos e de como se visualiza o que se passa em um processo assim, Lars lança mão a um apocalipse. A possibilidade do fim do mundo trazendo pânico e libertação às suas personagens.

Cheguei a ler críticas que falam da metáfora da reação das duas irmãs:

Justine que antes catatônica encara a situação com força e crueza. E sua irmã, Claire (novamente Charlotte), sempre preparada e solícita, entra em pânico e paralisa.

A partir daí diversas interpretações possíveis, desde análises de personalidades e psicologias até metáforas sociológicas e antropológicas. Mas vejo o filme se perder um pouco nesse discurso, o que tinha de mais intenso e mais verdadeiro na intimidade daquelas mulheres fica um pouco ofuscado pelo evento apocalipse (assim como talvez em Anticristo muitos vejam como excesso os surtos finais).


Me faz lembrar um pouco de Shyamalan em filmes como A Vila, onde se constrói uma grande tensão, suspense, drama, e depois se revela uma mentira... 

Melancholia é um filme sobre duas mulheres, mas de repente elas se tornam menores frente ao fim do mundo...


Controverso, Lars chegou a fazer paralelos desse apocalipse de seu filme com eventos nazistas, e se perdeu em metáforas que mostram sua mente fértil e perturbada.

Pra mim sua arte está acima do artista, e apesar de lamentar profundamente o incidente na coletiva  no Festival de Cannes 2011 (até por minha incessante defesa a ele se enfraquecer), sigo sua fã.

Sigo esperando ansiosa por sua próxima cria, sigo esperando pelas novas surpresas que ele me proporcionará, as novas reflexões e emoções que sempre me suscita!

Que venham as próximas! Porque indiferente é que não se pode ficar a esse grande nome do cinema.
(Os aplausos em Chorus de Melancholia provam isso! 
Confira no trailer!)

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