terça-feira, 28 de junho de 2011

INFERNO de Kieslowski por Danis Tanovic


Tinha muito forte a lembrança do filme denso visto na Mostra de SP em 2005.




Dirigido pelo interessante diretor Danis Tanovic de Terra de Ninguém, entre outros.

Roteiro do maravilhoso e inesquecível Kieslovski (do Decálogo e da Trilogia das Cores, entre outros).


E por essa partida se vê a construção de personagens profundas, densas, conflituosas...


Os dramas vividos por cada uma das três irmãs, seus amores desencontrados, a busca de harmonias, conciliações, reconciliações que a cada cena vão parecendo mais distantes... Buscas que vão se tornando buscas de si mesmas e que daí se revela o passado da infância em comum, e os desencontros em comum.

Revendo esses dias na TV, concordo com algo que li, da direção de Danis Tanovic não deixar que os conflitos tenham tanta ambiguidade, reforça a construção da tragédia onde as personagens são frutos de um passado e tem um destino a cumprir, e acaba diminuindo o que elas tem de tão profundo...

De qualquer maneira o filme é feminino, delicado, bonito, poético, denso...

Interpretações precisas, ritmo excelente, roteiro profundo, montagem e fotografia precisas, talvez só excedidas pela música que também reforçam a tragédia e diminuem o drama... Ainda assim é muito bonita e vale a pena!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Homem ao Lado (e o humor de nossos vizinhos argentinos)




Início interessante e divertido do filme de Mariano Cohn e Gastón Duprat . Dois vizinhos vivendo um impasse a cerca de uma janela... Até onde vai a privacidade de cada um... Questionamento da máxima "sua liberdade termina onde a do outro começa".

E isso é feito com bastante humor, personagens com peculiaridades, engraçados, tipificados, mas que funcionam.
(como se vê em seu trailer)

Até...

A metade do filme... 

A partir daí o conflito se desgasta, não há aprofundamento de outras questões, apenas uma leve sugestão sobre a maneira fútil como a família se relaciona, mas sem que haja um olhar nem tão crítico, nem tão criativo, nem mais aprofundado... 

A família burguesa artística, tendo à frente um designer arrogante, uma esposa fútil e uma filha alheia versus o vizinho machão (que em certos momentos parece uma versão tosca de Clint Eastwood em Gran Torino).

O conflito vai se esvaziando, se esvaziando, tudo começa a parecer caricatura e termina com um desfecho um pouco abrupto e extremamente fraco...



Me faz pensar que talvez funcionasse melhor como uma peça de teatro, um programa de TV ou mesmo um curta... Como o bastante interessante Medianeras de Gustavo Taretto. (que vale muito a pena ser conferido: clique aqui!)



E me faz pensar que os argentinos que fizeram dessa uma grande bilheteria argentina também dão suas derrapadas... Afinal, a maioria das outras amostras de seu cinema que chega por aqui pra mim vale mais (veja aqui entre os mais recentes: Abutres, Dois Irmãos, O Pântano, e por aí vai...)

domingo, 26 de junho de 2011

Potiche - Esposa Troféu de Ozon


François Ozon tem ótima mão de diretor, podemos até não entrar em suas "viagens" cinematográficas, mas ele sabe filmar, nos envolve com suas tramas, seus enquadramentos, as expressões de seus atores, seu ritmo de montagem, todos os detalhes de um filme...




Ele pode surpreender com uma trama forte e estranha como em Gotas D'águas sob Pedras Escaldantes.



Ser mais intimista e profundo como em Sob a Areia,Swimming Pool ou O Tempo que Resta.




Usar essa profundidade para fazer jogos de linguagem como em 5X2 - O Amor em Cinco Tempos.



Ou ainda dialogar com filmes de gênero como no policial musical Oito Mulheres ou em seu último rebento Potiche.

Potiche começa introduzindo o universo fantástico de sua protagonista, Madame Pujol, vivida por Catherine Deneuve, onde os animais surgem e cantam como em A Branca de Neve.

Daí passa a cenas mais prosaicas, com personagens bem marcados, de papéis claros e bem definidos. Parece se iniciar uma trama de novela das oito, onde se preveem desenrolares previsíveis.


Mas Ozon na verdade brinca com esses papéis, a trama tem diversas revelações que vão brincando com os clichês, surpreendendo por mostrar outros lados daqueles que pareciam personagens planos e óbvios.
O filme está longe de ser genial, mas é divertido, interessante, saboroso.

Uma novela muito bem filmada, apresentando o final dos anos 70 em uma bela fotografia, direção de arte e som, e com um algo a mais...

Confira o trailer! (e o filme) e respire mais desse Ozonio! ;)



terça-feira, 14 de junho de 2011

Estamos Juntos - Toni Venturi

Toni Venturi tem uma trajetória de filmes interessantes, criativos, comprometidos (O Velho, Latitude Zero, Cabra Cega, Dia de Festa, Rita Cadilac...).


E essas são as primeiras impressões de Estamos Juntos.


Fotografia excelente, me propondo pontos de vista diferentes e interessantes (enquadramentos realmente belos e surpreendentes); ótima montagem; ótimo trabalho com atores; roteiro criativo...

Um ponto de vista intimista sobre o cotidiano da jovem Carmem, vivida por Leandra Leal, uma médica residente que veio do interior para tentar a vida em São Paulo...

São Paulo que aqui é uma personagem bem desvendada e construída: em sua multiplicidade, praticidade, mistérios, correrias e o conflito e angustia que causa em muitos: sua grande quantidade de habitantes e a sensação de solidão que provoca em muitos deles...

Assim Carmem segue se relacionando com seus mundos: colegas médicos, enfermeiros, amigo de infância, amigo de amigo, amigo "estranho", etc

A proximidade com que vemos Carmem é bastante interessante e envolvente, tanto em suas pequenas ações cotidianas (o que Leandra Leal sempre desenvolve muito bem) como em seu grande conflito da descoberta de uma doença gravíssima.

Seu entorno também começa com grande potencial: o mundo médico com pessoas cansadas, cheias de dramas e tensões em seu olhar (já que muito ñ é dito explicitamente, mas sugerido - situação pregressa entre ela e médico vivido por Marat Descartes ou história de vida da enfermeira vivida por Débora Duboc); 

O mundo de agitos de classe média alta de seu amigo de infância também trazem vida, diversidade, cores e melodias, começando pelo amigo que está muito bem interpretado por Cauã Reymond.



E também passando pelo affair de Carmem com o roomate de Cauã, o argentino vivido por Nazareno Casero - que destoa um pouco do resto do elenco chegando a incomodar. 

Um terceiro mundo com que Carmem se relaciona é o de uma ocupação de sem tetos num antigo prédio no centro de São Paulo, ali ela faz palestras sobre saúde e se relaciona um pouquinho com o cotidiano daquelas pessoas de classe baixa (onde está Dira Paes).

Porém essa diversidade não é tão bem construída, elas não tem a profundidade do mundo de Carmem e acabam sendo um pouco caricatas e moralistas: a classe alta da futilidade e efemeridade e a classe baixa da humanidade e generosidade...

Essa construção quando realmente está se relacionando com Carmem contribui, dá profundidade e corpo à Carmem, mas quando quer ganhar vida própria só pelo espetáculo, me distancia profundamente...

É assim com a sequência de uma invasão do grupo de sem teto. Essa invasão, chamada de "festa" e muito bem narrada por Toni em seu documentário Dia de Festa, aqui se torna um apêndice e chega a enfraquecer o filme...

Por fim, Carmem também se relaciona com um homem que sempre aparece em sua casa. É com ele que Carmem estabelece seus momentos mais intimistas e poéticos, em diálogos realmente sensíveis e bonitos. Porém, outro deslize: o que começa com uma relação intrigante, misteriosa, profunda, logo se desvenda um artifício para expor os pensamentos e sentimentos da personagem, o que é aclarado na cena final de maneira bem rasteira...


Me faz ver com pesar pois até a primeira metade, o filme me parecia impecável e depois esses deslizes se sobrepoem um pouco às suas incontestáveis qualidades...

De qualquer maneira os méritos de Toni estão aí, suas escolhas temáticas conscientes e profundas, o ótimo desenvolvimento com atores, o trabalho parceiro e criativo com a fotografia, etc.

E seu progresso filmográfico também está aí!
Bravo para ele! E que venham outros nesse crescente!
Confira no trailer!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Alice no País de Tim Burton

Tim Burton adaptou Alice para o seu mundo, primor estético, onde ele delirou e aproveitou cada personagem para explorar caricaturas, cores, formas, efeitos...


Mas faltou dramaturgia... Um mundo assim para mim não tem maravilha (é apenas passagem para um buraco cheio de pirotecnias)... Falta eu entender o conflito da protagonista, sentir na pele seus dramas, sofrer com ela, querer lutar com ela, esperar suas reações e superações... 

Aqui os personagens são maniqueístas - bem diferente do original de Lewis Carroll, e não surpreendem, a não ser por seus trejeitos e belos figurinos...


Talvez se Tim quisesse trazer menos elementos poderia aprofundar mais as questões... A rainha que se vê em dúvida entre ser amada ou ser temida (conflito bastante interessante, mas abordado superficialmente) ou a garota que se incomoda com certos artificialismos da sociedade, mas no fim "vomita" verdades com um extremo moralismo às avessas...


Sutileza, complexidade só deixaria a adaptação mais fiel, sedutora, complexa, emocionante...

Pois falta eu me emocionar como me emociono com Edward e suas mão de tesoura, como me emociono com a família lutando contra fantasmas divertidos e BeetleJuice, com o Coringa, a Mulher Gato e o Pinguim lutando com Batmam.

Ou mesmo em desenhos de uma noiva cadáver... 


Todos me parecem mais vivos do que quando Tim extrapola na plasticidade e faz de seus personagens quase que bonecos plastificados também, sem sentimento, sem carisma... 
O que não deixa de ser um problema recorrente em sua cinematografia, já que tenho problemas similares com sua Fantástica Fábrica de Chocolate, com Seeney Todd - o Barbeiro Demoníaco, entre outros...



Mais drama, Tim Burton, porque a arte você domina!