segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Discurso do Rei (King's Speech) - Tom Hooper



Mérito de Tom Hooper por dirigir competentemente um filme sobre situação verídica vivida pelo rei George VI, que sofria de gagueira e teve que superar seu medo de falar em público.

O filme traz personagens interessantes: além do rei (vivido por Colin Firth) que se sente intimidado com microfones; sua mulher que lhe apóia e muitas vezes toma sua frente (vivida por Helena Bonham Carter); e o interessante profissional que lhe aplica um tratamento de superação do trauma da gagueira, em um misto de psicólogo, fonoaudiólogo, diretor vocal, amigo... (vivido por Geoffrey Rush).


O filme é fiel a essa sinopse, nem mais, nem menos. Preciso. No melhor estilo britânico.


Bom. Sem deslizes e sem empolgações. Para gostar, mas de forma alguma para ganhar o oscar de melhor filme. Falta de filmes melhores no estilo "acadêmico"... 

(ao menos o estrangeiro fez por merecer:  http://diculturices.blogspot.com/2010/11/heaven-susanne-bier.html)

E pra quem quiser conferir:



domingo, 27 de fevereiro de 2011

José e Pilar - M.G.Mendes


Sempre interessante poder ter a oportunidade de ver bastidores daqueles que gostamos... Saber um pouco mais de Saramago, principalmente após a sua morte, tem uma emoção prazerosa...

Ainda mais porque vem em um documentário cheio das reflexões de Saramago e a jornalista com quem era casado, Pilar (já que no próprio filme reivindica mais do que o papel de "mulher").

O que fica mais forte pra mim é justamente um filme que retrata o fim de uma trajetória. Saramago já está debilitado e luta contra o seu fim. Luta de maneira consciente, como diz, não por temer a morte, mas por saber que é o fim, por tentar que dê tempo de realizar seus planos, seus desejos, (seu último livro - A Viagem do Elefante)...

E Pilar vem com a força de seu nome, pilar, dando força e sustentação a esses planos, mas tb colocando paradigmas... Afinal, o que é viver em busca de planos? O que são nossos sonhos? O q esperamos da vida?

Sem dúvida queremos uma vida cheia de realizações, mas a que custo? Desfrutar a vida, se dar ao direito de pequenos prazeres (caminhar, dormir, encontrar amigos, descansar...), também não seriam realizações?

Quem é essa mulher então ao seu lado? Aquela que lhe apóia e dá mais produtividade ou aquela que é controladora e lhe faz imposições de agenda e de ritmo?

Como vivemos essa contradição dentro de nós mesmo?

E o que esperamos do amor?

Ouvi comentários distintos a respeito do filme: uns que se surpreendiam com Pilar ao conhece-la (ver sua força, energia, importância) e outros se assustando (já que ela parece manipuladora e muitas vezes uma mera administradora de Saramago)... 

E tem um pouco das duas coisas, mas o que é nítido é o tamanho do carinho que Saramago sente por ela! Sentimos esse amor, em dedos que a afagam todo o tempo, na cumplicidade e até dependência durante as decisões e momentos de debilitação, me emociono com as declarações de amor a cada dedicatória de livro...

"A Pilar"
"A Pilar, meu Pilar"
"A Pilar, aquela que não havia nascido e tanto tardou a chegar"


O jovem diretor Miguel Gonçalves Mendes faz um retrato discreto, respeitoso, sem grandes interferências, mas delicado o suficiente para poder captar com proximidade esse momento tão intenso na vida do casal...

Momento de reflexão e despedida, que é o que fica para mim do filme...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Mágico (L'illusionniste)



Bicicletas de Belleville é uma animações que consegue ser super singela e genuína ao mesmo tempo. Peculiar e muito graciosa: personagens originais, ritmo próprio, traço interessante, história original.

Com O Mágico (ou ilusionista, como no original), Sylvain Chomet aproveita roteiro de Jacques Tati, explora novas personagens interessantes e singulares, mas fica aquém...

Não define muito bem nem aprofunda a relação entre um generoso mágico e uma menina que se encanta com a possibilidade de uma nova vida cheia de "magias"...

A graça está em como o mágico tenta manter a crença da menina em seus truques, mas como para isso tem que se desdobrar... mas esse esforço não é tão explorado e a relação entre os dois também não é muito desenvolvida... 
Por isso quando há um rompimento na relação deles, não estamos muito envolvidos como espectadores e não há tanta comoção...


Fica um filme novamente muito estiloso, charmoso, elegante, mas com menos vida do que as bicicletas...


Que venham novas pedaladas, pois aí há um diretor com bastante criatividade, personalidade e potencial!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Tropa de Elite - José Padilha

Em choque com o filme-fenômeno, tentei preparar meu arsenal para um ataque embasado, contundente, profundo...
Mas há tantas ambigüidades que vou ficar no nível dos desabafos e impressões mesmo...

O filme, assim como o primeiro, tem seus méritos: boas interpretações, ágil, envolvente... Carismas e talentos... Mas tem fragilidades e perigos... Principalmente pelo que se dispõe...

Não estamos apenas falando de aspectos fílmicos, estéticos, narrativos, estamos falando de um tema e discurso muito sérios! E com um diretor que sempre se pronuncia com muita propriedade e arrogância...


Dentre os méritos do diretor, José Padilha, enfatizo um industrial, de ter assumido, encabeçado e lucrado com a distribuição do filme, muito nobre ter enfrentado cartéis e ainda por cima para ter lucros! Genial! Que possa ser um exemplo a ser seguido: distribuir os próprios filmes e não deixar os lucros para distribuidores e exibidores!


Em seguida o filme extremamente competente que envolve a tantos, bate recordes de bilheteria e é sucesso nacional. Por isso mesmo uma responsabilidade da qual ele não pode se eximir...

No primeiro Tropa, Padilha dizia ter pensado o filme de maneira diferente, onde Capitão Nascimento não era o protagonista... Intenção ou não, o fato é que criou um filme cujo discurso é dado pela voz do protagonista, e é um protagonista extremamente carismático, com o qual nos encantamos e pelo qual torcemos, ou somos impelidos a... 

O problema é que esse protagonista q acompanhamos de maneira tão próxima também é fascista, que propaga em alto e bom tom que "bandido bom é bandido morto". Evidente que não é qualquer fala de um filme que faz parte de seu discurso, mas como esse tipo de jargão se tornou moda nacional com certeza é em parte responsabilidade dos criadores. 

A questão complexa onde se formaram quadrilhas e todo um sistema criminal (tráfico,roubos...), ñ tem solução fácil, ñ será simplesmente c/ sistema policial q reprima (pois é ineficiente), ou q mate (prefiro acreditar q superamos esse nazi-medievalismo).


Tampouco com organizações não governamentais que proponham programas assistenciais para que as pessoas possam ter alternativas de vida em meio à pobreza e à falta de perspectivas.

São ações e falas que fazem do filme algo leviano...


Tropa de Elite 1 nos mostra essa situação e nos leva a torcer pelo capitão que não tem paciência, não tem tempo a perder e propaga a eficiência anti-crime da caveira, da morte, do assassinato, do fascismo...

Me preparar para ver o segundo filme foi um grande exercício de abstração, pois o discurso do diretor Padilha e do ator Wagner Moura era de outras facetas, outros discursos, outros raciocínios...

O mais livre de preconceitos possível, lá fui eu...

De fato novos lados do mosaico-moeda, capitão Nascimento se aproxima do sistema político e passa a ver novas maneiras de tentar combater o crime. Bem interessante, mas...


Para mostrar o sistema político, Padilha se dispôs a mostrar também a corrupção do homem frente ao poder (realmente me pergunto se o homem é capaz de estar no poder e não se corromper, pois ainda não conheço exemplos possíveis... por mais que o socialismo seja mais justo ou que outros governos possam ser defendidos, nenhum ainda conseguiu essa nobreza). 

Capitão Nascimento vê então que através da política poderia tomar decisões para impedir crimes e dar melhores condições de vida às pessoas, mas diante de políticos corruptos, assassinos, ladrões, parece impossível. 

Mesmo com a presença de políticos honestos com falas coerentes, justas e sociais, pois é um discurso feito dentro de uma visão extremamente ingênua, quase patética (como se torna o personagem deputado Fraga).

Capitão Nascimento vem novamente com seu carisma nos fazer acreditar em seu discurso, suas palavras, seus atos, e age como um herói solitário, quase um cowboy do velho oeste que tem que fazer "justiça com as próprias mãos".

(inclusive bater, espancar, ameaçar e talvez até matar... porque é isso que esperamos numa continuação, ela venha a existir ou não, ela se dê dessa forma ou não)...

A humanidade dada a ele também com a (des)construção de sua vida pessoal tem uma narrativa fraca (com coincidências forçadas do novo casamento de sua ex-mulher) e não contribui muito.


Se o filme nos propicia pensar num futuro para o país, em alternativas para situações de crime, miséria e violência em que nos encontramos, não pode incentivar "justiças" desse tipo... Cada um por si matando a todos, onde nos levaria?



A política pode ter suas contaminações, seus percalços, seus equívocos, mas ser generalizada e ridicularizada como faz o filme, é um deserviço, principalmente em um país que já tem tendência a dizer que "político é tudo igual", que "votar não serve pra nada", etc.

Fortalecer esse discurso (e por coincidência no que foi um ano eleitoral) é irresponsável, e aí passo a essa crítica que é muito menos cinematográfica e mais de ideais de vida...

"Hay que endurecer pero sin perder la ternura", temos que combater, mas sem ser destrutivos... Nem matando como no Tropa 1, nem desqualificando como no 2... Haverá um 3 para um arremate redentor...?

Padilha instiga e estimula, então tomara que sim!
Mas que amadureça ainda mais... 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

o Cisne Negro de Aronofsky


Lembro ainda com muita presença de quando assisti Pi, de Darren Aronofsky.

Filme sobre um matemático paranóico em busca do enigma dos números... Para construir essa história Aronofsky conseguiu reproduzir um ritmo de pensamento, a sensação de paranóia, a obsessão, a angústia... 

E tudo com muito estilo: filmado em PB, com efeitos visuais interessantes... Tinha aí um filme original e bastante interessante.


Me deixou atenta ao cineasta, mas durou pouco, pois o seguinte, Réquiem para um Sonho, trazia a mesma competência de efeitos e recursos, mas utilizados em uma história caricata e extremamente moralista. Todas as personagens eram como vítimas de uma sociedade maléfica, todos corrompidos por uma sociedade consumista...


O filme era uma espécie de acusação a todos, mas ao mesmo de nenhum: todos bonecos estúpidos de um destino manipulado por... Aronofsky deixou a desejar...


O seguinte foi o controverso, mas elogiado O Lutador, que não vi... E agora veio sua mais recente estréia: Cisne Negro...


Curiosa para ver o filme após ler uma matéria sobre Natalie Portman... Revelação de talento infantil, candidata a bibelozinho de hollywood, mas muito mais estofo que a média... 

Formada em psicologia em Harvard, Natalie vai além dos papéis de boa moça, se entrega a diretores mais alternativos como Amos Gitai, em Free Zone, a raspar a cabeça em V de Vingança e em Cisne Negro se entregou literalmente de corpo e alma, numa dedicação intensa de um ano de aulas de balé...

Assim, segundo ela, incorporaria já a disciplina e rigidez da própria personagem diante da dança...

Cisne Negro retrata esse universo do balé clássico: o esforço físico e o mundo de testes, seleções, inveja, cobiça e afins... Situação de stress que pode levar a extremos perigosos... De um thriller psicológico, por exemplo... 

O filme começa bem interessante apresentando a personagem Nina Sayers e seu ambiente. Mas também não vai muito além, nem traz personagens inusitados: o diretor da cia sedutor, instigante, figura de atração e medo da bailarina. As companheiras mais soltas, muitas vezes invejosas, ou até já decadentes... Como a ex-grande dama da companhia vivida curiosamente por Winona Ryder. Outra personagem fundamental e chave na trama é a mãe da bailarina, que funciona como uma figura protetora, opressora e até limitadora desse patinho feio tentando ser cisne...

Aos poucos esses elementos de crise psicológica vão beirando o thriller... Aronofsky tenta seguir os passos do mestre Kubrick em O Iluminado, mas sem nem 1/10 do brilho... Ali há cenas d impacto, mas tb sutileza e originalidade, já aqui...

Da metade do filme em diante a loucura de Nina vai dominando o filme, que passa a ser um filme de terror... 

Há uma intenção interessante de misturar a ficção do balé com a realidade do filme que poderiam vir instigante e com incrível beleza, mas a estética do balé deixa a desejar... Apenas braços e pernas cruzando a tela e a forte expressão de Natalie (forte candidata ao Oscar 2011 inclusive).

O que aprendemos com Chico Buarque que "só a bailarina que não tem" fica ausente no filme...

O balé poderia ser muito mais, poderia nos inebriar e aí enriquecer a trama... Que acaba nos torturando, sufocando e terminando sem muita surpresa...
Mais competente que outros filmes do diretor, mas ainda na mesma coerência de mais barulho do que melodia... (nesse caso, literalmente).

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Um lugar qualquer (Somewhere) - Sofia Coppola

Sofia Coppola tem estilo: filma bem, tem histórias muito particulares, constrói climas, tem personagens sedutoras (e não no sentido clichê da palavra, mas de uma maneira mais intimista, mais própria, mais interessante).

Foi assim desde sua estréia com Virgen Suicides... Mas desde ali ela não me conquistou... A maneira como explora certa frivolidade, grandes ações vindas de motivações pequenas, mesquinhas, isso não mexe comigo...

No seguinte a história já me pareceu muito mais interessante: Lost in Translation (Encontros e Desencontros) conseguiu um ambiente onde a estranheza de Sophia Coppola se encaixava:

Tokio c/ Scarlett Johansson filmada lindamente e Bill Murray num papel ligeiramente diferente... Os tempos, a trilha, os enquadramentos, o ritmo... Fluiu, me cativou verdadeiramente! 

E me deu fôlego para o próximo: Maria Antonieta. Mas aí volto ao problema da falta de afinidade com os mesmos temas: a estética não me encanta tanto assim, um filme que conta a história de uma rainha que não sabia o que fazer com tanto dinheiro e possibilidades e que lidava com tédio diante de infinidades de roupas, comidas, festas... O tédio pra mim não chega como uma crise psicológica, acho o filme vago, pobre, sem graça... Nem Versailles salva! 

(E olha que quando vi o filme havia estado lá há pouco e só de lembrar dos espaços já era um super ponto positivo...)



Bom, vamos ao mais recente: Somewhere (Em Lugar Nenhum).
Novamente o tédio em relação ao glamour, dessa vez de Hollywood... Um galãzinho e sua filha... 

Se ensaia um tédio que resvala em uma depressão, que quase poderia ser interessante... Se ensaia conflitos reais em uma menina que vive em um mundo meio de faz de contas, onde não há limites para algumas coisas, mas não há referência para se poder sonhar... 



(E aqui vale a ressalva que a maneira como ela capta a vida e graciosidade dessa pré-adolescente  é um primor! Vem cheia de beleza, vida e frescor!). 


Talvez difícil julgar, pois deve ter muito de autobiográfico de Sophia, que desde pequena terá convivido com grandes atores, estado em distintos hotéis, sido paparicada de maneira exacerbada e fútil...

Mas como filme me instiga o universo, tento entrar, mas não consigo. Primeiro pois Sofia não vai além em seu retrato e isso acaba me aborrecendo, e depois que a construção de clima (com as interpretações, enquadramentos, montagem, trilha, etc) que começa estilosa, interessante, sedutora, aos poucos começa a me cansar e o que me afeta passa a ser afetação, o que é descolado, descola de mim... Como diria um amigo esse estilo "superbacana com melancolia super indie-cool-descolada" não me convence...


E sigo desconfiada até o que vier pela frente... Talento aí não falta, mas quanto ao estofo e densidade...
Sofia surgiu como menina, fazendo filmes de menina, mas no alto de seus quase 40 anos começo a ansiar por seu amadurecimento... Referências próximas não faltam a ela... O repertório do pai que o diga...