sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dolls - Takeshi Kitano

Ao ver "Sonhos" e comentá-lo em aula, imeditamente me lembrei de "Dolls" - uma obra-prima de Takeshi Kitano... Cineasta irregular, mas que quando acerta a mão sabe fazer muita poesia com a sétima arte...

Aqui, por exemplo, fala de diferentes facetas do amor, encontros e desencontros, possibilidades e impossibilidades e transforma idéias abstratas em pictorias magníficas!

Como o casal que segue no filme do começo ao fim... em seu encontro de alma e desencontro de vida... atravessando todos os momentos do dia, todas as estações do ano, todos os estados de espírito...

Em "Dolls" vemos a simplicidade da felicidade em um brinquedinho de criança, e o fatalismo da felicidade parecer efêmera, frágil, impossível...
Casais que mesmo quando se encontram não podem desfrutar desse amor... Pior: casais que mesmo quando se REencontram, são impedidos novamente de vivê-lo...

E como em "Sonhos" de Kim Ki-Duk, Kitano também dá forma à sentimentos e situações abstratas de amor, solidão, angústia, loucura...
Me faz lembrar meu professor de criação literária citando Chico Buarque: "'ter que arrumar o quarto de um filho que já morreu' não é mesmo uma das melhores metáforas para saudade?". Ki-Duk e Kitano criam diversas...

E exploram o universo oriental com primazia... No minimalismo, nos detalhes: coloridas flores, belas e emblemáticas borboletas, máscaras, bonecos,teatros, óperas e quadros...

É o jogo de marionetes da vida transferido para 120 minutos de grande magia!

Delicado, suave, profundo...

Sonhos - Kim Ki-Duk


O que tem de mais profundo naquilo que sentimos? 
O que é o amor? A dor? A angústia? A união? A separação?

Como traduzir isso em imagens? Em histórias? Em poesia?

Kim Ki-Duk é um dos cineastas da atualidade que mais me chamam a atenção... Desde que vi o seu inquietante A Ilha; passando por aquele que o fez se consagrar em certo círculo em SP - Casa Vazia; até por outros não tão bem realizados, mas de argumento ainda mais sensacionais, como Time; ou em seu mais recente: Sonhos...

Aqui Ki-Duk parte de uma premissa absurda de um cara que tem sonhos premonitórios do que uma garota sonâmbula irá fazer, e ele nem a conhece... Ambos estão envolvidos com finais de relacionamento, e a relação que criam entre si terá a ver com isso...

Sonhos mais que contar uma história, joga com imagens, metáforas, símbolos... Não tem nada ver com nosso costume ocidental de racionalizar os sonhos, (como Freud)... Também não tem a ver com os sentimentos como eles são, mas como eles podem ser sentidos e representados, como em máscaras de teatro oriental... 


Por exemplo, Kim Ki-Duk não busca uma narrativa para a sensação de se sentir preso, atado ao passado de uma relação que já não é, ele busca imagens...

Ele não busca ações para essa tentativa de libertação, mas poesias visuais... 

Não é uma conversa triste e racional com lágrimas, pode ser uma algema, uma borboleta, um quarto vazio...

Por isso talvez a história não chegue a ser sensacional, mas o mergulho nas imagens, na sensação, me dilaceraram um pouco... E acho possível a qualquer um que já tenha sentido a angústia de não poder recuperar o que já passou; de saber que há que seguir mesmo em parte ainda querendo ficar; de amar mas saber que já é impossível; a sensação do avesso...

Abstrações tão concretas... em imagens às vezes tão belas quanto falsas, tão verdadeiras quanto tristes...

Além do que Sonhos me parece um mergulho profundo numa outra cultura... Que em parte sempre me faz perguntar o quanto o respeito pelas diferenças também não chegam a uma tolerância exacerbada onde talvez mesmo para os nativos parecerá excessivo e demasiado falso... Mas algumas sutilezas são fundamentais... Desde perceber que os ideogramas aparecem ao revés ou até saber que na simbologia oriental, numa relação, a busca de 1+1 será igual a 1... a união simbiótica... Tão distinta da nossa busca ocidental, onde apesar dos entrelaçamentos, 1+1 usualmente seguirá sendo 2...

E talvez por isso mesmo quando já me sentindo "2" e tendo que subtrair o outro, ainda haverá um ali debaixo, mesmo que doído... Já no filme...



domingo, 11 de abril de 2010

Nine


Tenho restrições com musicais, mas confesso que muitas vezes eles me ganham... talvez da mesma maneira como me encante com contos de fada simplórios e antiquados da Disney... Mergulho em um mundo de fantasia, me contagio com as músicas e com o ritmo e já estou...

Assim posso rir com palhaçadas em Dançando na Chuva, ou refletir em Todos Dizem eu Te Amo, ou me emocionar e derramar um rio de lágrimas em Dançando no Escuro, cantarolar em A Pequena Sereia... E me entreter bastante com Chicago! Filme de tribunal, tipicamente americano, como em geral não me interessam por nada, mas que deixaram boas recordações em mim de um dia de shopping com pipoca...

Um dia mais melancólico e de ressaca em minha estada em Valencia, busquei as opções não dubladas em um castellano meloso, eis que encontrei então Nine... Parecia uma ótima opção para me divertir: elenco bom, diretor que havia me divertido anteriormente, por que não?

Mas logo no começo, vendo que a narrativa não avançada, que era pesada e que era apenas uma sucessão de mulheres se exibindo e um homem se lamentando... Argh... Ok, a crise de criatividade é algo que nos faz ficar girando a cabeça, mas ficar rodando um filme inteiro em volta desse mesmo eixo...

Me cansou...

E olha que Daniel Day-Lewis me atrai a tentar ver o algo mais que parece haver atrás dos seus olhos, e olha que ver Sophia Loren depois de tanto tempo me parece muito rico, e olha que Kate Hudson é bem carismática, que Penélope Cruz está muito bem, Judi Dench também e que Marion Cotillard me intriga cada vez mais...

E aí está a prova: a importância que tem um roteiro!